quarta-feira, 10 de julho de 2013

Entrevista com os autores da The King (10): Elton Silva de Lima



Elton Silva de Lima, um dos autores da The King, é alagoano, natural de Palmeira dos Índios. Escritor e estudante de Letras e Psicologia, foi vencedor de concursos literários no estado, dentre os quais, o IV Concurso Prosa e Verso da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes. Autor do livro Mentalmorfose, publicado pela editora Multifoco, destacou-se como autor da nova geração brasileira. Contato com o autor (eltonsdl@gmail.com).

Elton, como você e a literatura se conheceram?
Nosso “caso de amor eterno” se deu quando eu nem mesmo sabia ler. Muito pequeno, antes até da minha alfabetização, fui introduzido no universo das histórias em quadrinhos. Não saber ler, para mim, não era problema. Ao me deparar com os desenhos de cada história, imaginava todo o roteiro em minha mente: os diálogos, a trama, a ação. Criava e recriava, a meu modo, o que eu via e sentia, por meio da imaginação. Quando passei a ler, efetivamente, minha relação com a literatura só tendeu a crescer, expandiu-se e atingiu diversos patamares, culminando nesse “casamento indissolúvel” até hoje.

Por que a profissão de escritor lhe interessou?
Poderia listar uma série imensurável de motivos. No entanto, a principal razão por ter escolhido as árduas veredas da escrita, pode muito ser resumida em uma palavra: amor. Foi por amor à leitura e à escrita, pelo deleite de criar e recriar, pelo prazer de transferir o observado e o imaginado ao papel que quis ser escritor. Nunca me vi fazendo outra coisa, embora já tenha até tentado. E, hoje, apesar de desempenhar tantas outras tarefas, de pavimentar outras estradas a partir do caminho principal, enxergo tudo isso como secundário. Digo: todas as outras coisas que faço que não se relacionam com a arte literária parecem operar em segundo plano, em uma escala menor de importância. Por mais que elas sejam necessárias, escrever é vital, é prioritário. Não tenho escolha – e nem faço questão de ter.

Por que participar de uma antologia?
A natureza das produções literárias antológicas é caracterizada por propiciar uma variedade de aberturas aos autores, especialmente àqueles que estão iniciando suas carreiras. É um ótimo pontapé inicial, tendo em vista que nem sempre as grandes editoras acolhem os “novatos” de braços abertos. Além disso, soa-me interessante a ideia de ter um texto de sua autoria figurando em conjunto com textos de outros tantos escritores talentosos, cada um com seu estilo, com suas particularidades, todos divulgando os trabalhos uns dos outros. É como se uma grande fraternidade estivesse reunida em um só local.

Fale um pouco sobre a The King?
The King, como já evidencia pelo título, é uma antologia que reúne contos de terror de autores oriundos de todo Brasil e que reverencia o grande autor do gênero, o norte-americano Stephen King. Eis aí dois motivos a mais que justificam minha participação, pois sempre fui aficionado pelo gênero “terror” nas artes e, muito mais pelo gênio e mestre Stephen King. Tão diversa quanto a produção dele é o material que a Multifoco reuniu em livro. Nele, podemos encontrar terror pra todos os gostos, seja do mais sutil, psicológico, com maior apelo à sensibilidade até o mais “gore”, sangrento, horripilante e macabro.

Como você define o processo que envolve a compilação de uma antologia?
Acredito se tratar, sobretudo, de um processo que exige um denso trabalho em equipe, além de ser bastante criterioso, como ficou evidente por meio da The King. Depois da definição do tema em voga, há a abertura para a participação dos escritores. Mas, como numa espécie de concurso, as vagas são poucas e as exigências editoriais reservam espaço apenas para os melhores textos – que acredito, são abundantes. Por isso, além do rigor no ato da escolha, acredito que diversos profissionais trabalhem diversas competências nessa seleção: aspectos linguísticos, estilísticos, gramaticais, contextuais, técnicos, etc.

Como você vê o mercado editorial brasileiro para os novos autores?
Houve um aumento considerável de possibilidades para os novos autores no mercado nacional, tanto em relação aos métodos de publicação tradicionais quanto aos alternativos. Embora esse hermetismo tenha diminuído de forma visível, as grandes e consagradas editoras, sonho de consumo de qualquer escritor, ainda parecem manter certas reservas a autores igualmente consagrados, que já são “da casa.” Todavia, há diversas editoras de pequeno ou médio porte com as mais diversas propostas para cada tipo de produção literária e com bastante qualidade, felizmente. E estas são até melhores, no aspecto de que tendem a permitir uma liberdade autoral bem maior que as gigantes do mercado.

Em sua opinião, é possível viver de literatura no Brasil?
Apesar do avanço mercadológico supracitado, os autores ainda não são tão valorizados, financeiramente falando, por seus trabalhos. Acredito realmente que, especialmente no Brasil, quem escreve, escreve por amor. Mas, para o mal ou para bem, vivemos em um sistema capitalista no qual para se estabelecer como um profissional em qualquer setor existe uma considerável demanda de dinheiro. Em suma, os escritores deveriam ganhar por seus feitos do mesmo modo que ganham outros profissionais de ramos mais “tradicionais”, de sorte que poderiam se dedicar integralmente à escrita. Como são seres humanos de carne, osso, dívidas, contas, filhos e demais despesas, o sonho de viver para ser um profissional das letras em sua plenitude disputa espaço com o cartão de ponto por bater ou com o chefe (também por bater?) em um dia de segunda-feira.
Viver de literatura no país é possível, talvez um tanto utópico. Mas a utopia serve pra nos fazer caminhar, já dizia Eduardo Galeano. Caminhemos, então.

De que maneira a internet atua em sua vida de escritor?
Um dos maiores ganhos que a internet propicia para minha literatura é a divulgação e o contato com o público. É maravilhoso poder trocar ideias de forma instantânea, direta, com os leitores. Saber o que eles acharam do seu livro, que eles esperam por mais e torcem por seu sucesso... desenvolve-se uma relação muito mais calorosa e muito menos cartesiana. Não raro se estabelecem muitas amizades. A difusão do trabalho se dá da mesma forma instantânea, com um rápido retorno do público. Há ainda uma ideia um tanto romantizada a respeito da divulgação na internet. Pensa-se que pela universalidade e abrangência que ela possui, o artista consegue reconhecimento e glória fulminantes. Não é bem assim: por mais que seu trabalho seja bem feito e que haja uma divulgação bem executada, a conquista de espaço ocorre gradual e lentamente. Penso que isso tenha algo a ver com a noção de indústria cultural, com aquilo que Walter Benjamin chamava de “perda da aura” (uma consequência nociva da democratização da arte), com a fugacidade que é própria da dinâmica das redes sociais, por exemplo, da apatia cultural que paira, dentre outros fatores. No entanto, apesar dos pesares, tudo seria bem mais difícil sem a internet.

Qual a influência de Stephen King em sua literatura?
Stephen King é um mestre para mim, em diversas dimensões, mais do que qualquer palavra possa descrever. Desde que conheci sua literatura, não apenas fui apresentado a um novo e fantástico modo de ler, mas também a um novo jeito de escrever. Minhas produções evoluíram de forma bastante positiva e natural, como se eu absorvesse inconscientemente diversos aspectos da literatura do rei Stephen. Depois de um tempo, além de me deleitar passei também a “estudar”, observar com um olhar mais cuidadoso, atencioso a construção da narrativa “kingniana” e, ali percebi novas e cativantes formas de contar histórias, de acrescentar riquezas a elas, de construir verossímeis personagens, etc.
King foi um divisor de águas para mim enquanto leitor e escritor.

Para encerrar: quais teus planos daqui pra frente? Já tem um livro na manga, projetos, publicações?
Em suma: quero escrever tanto quanto me for possível. Ideias e projetos não me faltam – espero ter as condições de realizá-los, o máximo que eu puder. Embora escreva desde sempre, foi em 2012 que publiquei meu primeiro livro, “Mentalmorfose”, pela editora Multifoco. Trata-se de um livro de poesia. E dentro desse gênero tenho mais 3 livros finalizados, “na gaveta”, como gosto de dizer. Também estou finalizando um livro de contos de terror e lapidando ideias para alguns romances, de temáticas diversas. Ainda não sei ao certo o que publicar na sequência de “Mentalmorfose”, mas pretendo lançar algo ainda esse ano e espero que o público goste tanto quanto.

Entrevista realizada pela Editora Multifoco – Unidade Sul

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